Sobre Ilustração Científica
Por quê ilustrar?
Apesar da existência da fotografia e esta possuir sua validade nas ciências, quando nos deparamos com a necessidade de representar informações abstratas, um organismo extinto ou um modelo científico, nos deparamos com uma barreira. Parece óbvio que ideias e inferências não possam ser fotografadas, mas, sim, ilustradas, aumentando a compreensão e a percepção que temos de algum assunto. No entanto a ilustração é necessária somente onde a fotografia não pode ser aplicada? Por que alguém seria contratado para ilustrar uma criatura vivente e macroscópica? Além disso, a ilustração não é uma forma de arte que inclui muita subjetividade e, assim, seria menos objetiva que uma fotografia? Como pode ter valor científico?
Um ponto importante para começarmos a responder essas questões são os métodos utilizados na ilustração científica. Primeiramente, as ilustrações são feitas em escala, de forma que as proporções são exatas entre o objeto de estudo e o desenho. Inclusive, em caso de ilustrações coloridas, as tonalidades e pigmentos são cuidadosamente testados para serem fidedignos ao modelo real. Dessa forma, é possível perceber que a ilustração científica não é um mero desenho, pois existe um profundo estudo prévio do objeto de interesse.
Embora seja carregada de subjetividade, por ser uma interpretação do ilustrador, a ilustração científica também pode ser muito mais objetiva que uma foto. Enquanto a fotografia proporciona toda a informação que o modelo pode ter, mostrando formas e cores, a ilustração tem o poder de resumir e destacar a informação que é necessária para aquele estudo. Ou seja, torná-la mais objetiva. Além disso, muitas vezes o material de estudo não se encontra em seu melhor estado de conservação. Nesses casos, somente a ilustração tem a capacidade de extrair a informação necessária para caracterizar precisamente a forma ideal desse material.
Como se tornar ilustrador científico no Brasil
Não há nenhum curso de graduação ou pós-graduação no Brasil voltado à ilustração científica, e não há regulamentação como profissão per se. Os ilustradores científicos do Brasil são, em maioria, formados em alguma área de ciências (como ciências biológicas e paleontologia), que buscam cursos de especialização técnica e artística. Alguns são formados em uma área artística (como design e artes plásticas) e, por conta do contato com cientistas, vão aprendendo e se especializando em algumas formas de representação científica. Logo, atuar como ilustrador científico é essencialmente um trabalho autônomo, no qual a experiência e o portfólio são os diferenciais.
Allosaurus fragilis (Heitor F. Leme)
O processo de ilustrar
Uma ilustração científica se inicia pela intenção do pesquisador e/ou do ilustrador em representar uma ideia, conceito ou espécie. Quando a ideia parte do pesquisador, ele busca um ilustrador para realizá-la. Quando parte do ilustrador, ou ela virá por conta de interesse na área ou por conversas com pesquisadores. Com o objetivo da ilustração proposto, o ilustrador fará um esboço e o discutirá com o pesquisador, tanto sobre a adequação do esboço à intenção quanto a possíveis erros conceituais. O esboço é feito com consulta direta ao material de interesse, às vezes também servindo como estudo do material.
O esboço, quando aprovado, servirá de orientador para o acabamento final, que também é definido em acordo com o pesquisador contratante. Essa parte do processo também pode se dar com consultas ao pesquisador, caso o ilustrador tenha dificuldades com o material, ou essa consulta só é retomada quando a ilustração está pronta.
Esboço da capa do capítulo "Carga Genética" do livro "Genética na Escola, Vol. 8" escrito pelo Prof. Dr. Sérgio R. Matioli.
Arte final publicada no livro, pela ilustradora Laura Montserrat.
Projetos semelhantes:
Núcleo de Ilustração Científica (UnB)
Núcleo com o intuito de formar profissionais capacitados em representação de materiais biológicos para divulgação em meio científico. Coordenada pelo Prof. Dr. Marcos A. S. Silva Ferraz.
Curso de Formação em Ilustração Científica LIC-dbio/UA
Em Portugal, a Universidade de Aveiro possui um laboratório destinado especificamente para o estudo da comunicação não-verbal das ciências e o papel da ilustração científica. Coordenado pelo Prof. Dr. Fernando J. S. Correia.